No dia 17
de dezembro de 2018 ocorreu no auditório Natanael Farias Leitão do Ministério
Público do Estado do Pará (MPE/PA) uma audiência pública sobre questões relacionadas à
Bacia do Una. A Bacia do Una é composta por um sistema de drenagem que inclui
17 canais, 6 galerias e 2 comportas, em uma área que abrange vinte bairros
(Barreiro, Benguí, Cabanagem, Castanheira, Fátima, Mangueirão, Maracangalha,
Marambaia, Miramar, Parque Verde, Pedreira, Sacramenta, Souza, Telégrafo, Una,
Val-de-Cans, Marco, Nazaré, São Brás e Umarizal) e ocupa 60% do sítio urbano de
Belém.
Após
a conclusão do Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una – entre o fim de 2004 e o início de
2005 – os moradores da área tem sido vítimas
de alagamentos e inundações pelo transbordamento dos canais que foram
construídos pelo referido projeto. O Ministério Público do Estado do Pará
reconheceu que os alagamentos e as inundações na Bacia do Una acontecem porque nunca
houve manutenção adequada das obras de macrodrenagem implementadas. Em 2008 uma
Ação Civil Pública Ambiental contra o Governo do Estado do Pará, a Companhia de Saneamento do Pará (COSANPA) e a
Prefeitura Municipal de Belém foi ajuizada pelo referido Órgão Ministerial através do Processo de nº
0014371-32.2008.814.0301.
Em
2013 o MPE/PA sugere o firmamento de um acordo TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com os réus da Ação Civil
Pública Ambiental. A Prefeitura, o
Estado e a COSANPA respondem pela obrigação de fazer a manutenção no sistema de
drenagem que nunca ocorreu e a realização de obras de microdrenagem que ficaram
pendentes. O acordo proposto tem como base um recurso obtido junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para ser utilizado no que se
convencionou chamar de "reabilitação" da Bacia do Una nos documentos
em que o BID se refere a esta operação de crédito (3303 OC/BR).
Cinco
anos depois a prefeitura se encontra na fase de atender as condicionantes para
o empréstimo. As discussões entre moradores da Bacia do Una, o Ministério
Público e os réus são retomadas com vistas à execução das obras previstas e ao
possível cumprimento do TAC. Assim, a audiência pública do dia 17 foi pautada
em três eixos: 1) O escopo da “reabilitação” do conjunto de obras do Projeto de
Macrodrenagem da Bacia do Una com um recurso de 90 milhões de reais financiado
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID); 2) As estratégias para
manutenção das obras da Bacia do Una e 3) Ações emergenciais para combate às
inundações e alagamentos durante a estação chuvosa que já está em curso. Trata-se,
portanto, de ações de médio, longo e curto prazo.
Na
audiência estiverem presentes o próprio Prefeito Municipal, além de autoridades
da COSANPA, da Secretaria Municipal de Saneamento (SESAN), Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (CODEM) e da Unidade de Cordenação do Programa de Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova (UCP-PROMABEN), a unidade de gestão que é o órgão contratante do
empréstimo de 125 milhões de dólares junto ao BID. Do total da quantia de 125
milhões de dólares financiados pelo banco, 90 milhões de reais serão alocados
para a Bacia do Una, que em caráter excepcional foi inclusa na segunda etapa do
Projeto PROMABEN.
Membros da
Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU) se fizeram presentes, assim como a Defensoria Pública e movimentos
sociais como a União Nacional pela Moradia Popular (UNMP/PA), além de entidades como como a Ordem dos Advogados do Brasil seção Pará (OAB/PA) através de suas comissões de Saúde, Meio Ambiente, Direito Urbanístico e Planejamento Urbano, o Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) e o Conselho de Arquitetura e
Urbanismo (CAU). O Centro de Gestão e Operação do Sistema de Proteção da
Amazônia (CENSIPAM) também esteve presente e a Universidade Federal do Pará foi
representada pelo Programa de Apoio à Reforma Urbana (PARU/UFPA).
Também foi registrada a presença de suma importância de membros do Conselho Gestor da Nova Bacia do Una (CONGEB/Una). Esta foi a entidade que ficou responsável, após a conclusão do Projeto Una, pela articulação da participação social nas áreas beneficiadas pela macrodrenagem, possuindo as atribuições de cobrança, fiscalização e denúncia. Com a existência de recursos para obras na Bacia do Una e a necessidade de participação social nesse processo, o Conselho Gestor é provocado a se manifestar, comparecendo à audiência pública.
Também foi registrada a presença de suma importância de membros do Conselho Gestor da Nova Bacia do Una (CONGEB/Una). Esta foi a entidade que ficou responsável, após a conclusão do Projeto Una, pela articulação da participação social nas áreas beneficiadas pela macrodrenagem, possuindo as atribuições de cobrança, fiscalização e denúncia. Com a existência de recursos para obras na Bacia do Una e a necessidade de participação social nesse processo, o Conselho Gestor é provocado a se manifestar, comparecendo à audiência pública.
Após as
falas do Promotor de Justiça e do Prefeito, houve apresentação da vistoria
realizada pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPE/PA) na Bacia do Una, constatando o abandono no conjunto de obras. A apresentação do MPE/PA foi complementada pelo relato da FMPBU em
parceria com a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Pará e do PARU/UFPA, que
trataram não apenas sobre a necessidade da reabilitação de obras já executadas,
mas de diversas pendências deixadas pelo Projeto Una durante a sua execução, o
que hoje compromete a efetividade das políticas públicas de drenagem, saneamento
e de saúde pública em geral.
A
UCP-PROMABEN apresentou um plano de obras para a Bacia do Una, determinando os
canais que serão inclusos na “reabilitação”, além das obras de Microdrenagem
nas marginais dos canais e da recuperação das comportas do Una e do Jacaré. A
SESAN expôs o seu plano emergencial para contenção dos alagamentos e inundações
durante o inverno em curso, com um calendário de ações nos canais da Bacia do
Una e os equipamentos a serem utilizados. A UCP-PROMABEN e a SESAN repetiram na
forma de apresentação de slides as informações que já haviam sido
compartilhadas em uma reunião anterior ocorrida no próprio MPE/PA. Os
representantes dos órgãos também não responderam a grande parte das questões
enviadas de antemão ao MPE/PA a pedido do Promotor para serem repassadas à SESAN
e à UCP-PROMABEN e respondidas na ocasião da audiência pública. Assim, o plano
de obras da UCP-PROMABEN permaneceu vago (havendo apenas os canais listados pra
receberem intervenção), assim como não ficou evidente se há ou não um plano
emergencial da SESAN para este inverno na Bacia do Una.
Após as
apresentações formais, abriu-se o espaço para os presentes se manifestarem.
Membros da FMPBU tiveram a palavra, assim como outras entidades populares.
Houve também muitas falas de apoiadores do Prefeito Municipal que estavam na
plateia. Os mesmos foram embora em sua maioria quando, às 13h, o prefeito se
retirou do auditório para atender outro compromisso. A
dinâmica das perguntas e respostas contou com a participação de outros atores
que não se pronunciaram nas falas formais previstas para a audiência, a exemplo
do representantes do CENSIPAM e da representante do CAU, que enriqueceram o
debate com suas contribuições.
Ao fim do
audiência pública que durou aproximadamente das 8:30 da manhã até as 15:00,
restaram algumas observações. O plano de obras apresentado pela UCP–PROMABEN
permanece vago. Sem um orçamento detalhado, a quantia de 90 milhões de reais
continua parecendo insuficiente para as obras necessárias na Bacia do Una. Quanto
às áreas excluídas do Projeto Una e que ainda nos dias de hoje necessitam de
obras, a exemplo do Canal Antônia Nunes e do Canal das Malvinas, não houve
nenhum encaminhamento nem a prefeitura e nem a UCP-PROMABEN. Estas áreas não
foram incluídas no plano de obras do PROMABEN II e também não foi mencionado
que a prefeitura utilizaria recursos próprios para beneficiar estas e outras
áreas. Também os logradouros com microdrenagem pendentes tem sido excluídos das
discussões com a prefeitura. É necessário lembrar que as microdrenagens
pendentes são objeto das obrigações de fazer estipuladas na petição inicial da
Ação Civil Pública Ambiental. Se de fato as microdrenagens pendentes forem
excluídas do TAC, isso beneficiaria a prefeitura, que assumiu a
responsabilidade pela realização dessas obras a partir de 2005 junto ao Governo
do Estado.
Outra
questão bastante discutida foram as deficiências no sistema de esgotamento
sanitário implementado na Bacia do Una. Os técnicos da COSANPA declaram que o
problema maior não seria a falta de Estações de Tratamento de Esgoto, mas a
falta de ligações domiciliares à rede de esgoto. Para os representantes da
companhia de saneamento, haveria estações inativas por falta de material para
tratamento. Em seu discurso há uma tendência a responsabilizar a população que
se negaria a fazer a ligação das residências à rede de esgoto. De todo modo, é
consenso que o problema da drenagem não pode ser resolvido sem que seja dada
certa atenção ao esgotamento sanitário. Em primeiro lugar por uma questão de
saúde pública, pois o esgoto despejado in natura nos canais retorna às
residências quando os canais transbordam. Em segundo lugar por uma questão de
dimensionamento da rede de drenagem, cuja capacidade de acumulação foi
projetada para receber águas pluviais e não o esgoto sanitário. Especula-se que
muito dos resíduos que assoreiam o leito dos canais seja material de
esgotamento.
A
existência de plano com ações emergenciais para mitigação dos efeitos de
inundações e alagamentos na Bacia do Una também foi alvo de controvérsia. A
SESAN apresentou um calendário de ações de manutenção e limpeza de canais e
galerias. No entanto, não ficou evidente se o calendário apresenta as ações
regulares que ocorrem todos os anos – o que a prefeitura intitula de
"Operação Inverno" – ou se há alguma excepcionalidade nos esforços
que serão envidados neste ano. Os representantes da SESAN foram bastante
questionados nesse sentido, inclusive foi apontado que o calendário de ações
estaria atrasado, pois o inverno amazônico já está em curso. Por mais que haja
esforços por parte da SESAN por meio da intensificação sazonal dos trabalhos
para limpeza e manutenção do sistema de drenagem, isto não tem sido suficiente
para evitar inundações e alagamentos na Bacia do Una ano após ano.
Atualmente os parâmetros técnicos da
manutenção e conservação das obras da Bacia do Una encontram-se em estágio de
revisão. Semanas antes da audiência pública a prefeitura disponibilizou a minuta
de um novo manual de operação e manutenção dos sistemas de saneamento básico da
cidade de Belém, que tem no seu conteúdo os eixos drenagem, esgotamento
sanitário, limpeza urbana e abastecimento de água com especificações para as 14
bacias hidrográficas existentes na região metropolitana da Belém. O novo manual
é uma das condicionantes para a obtenção do empréstimo junto ao BID, assim como
a elaboração de um plano municipal de saneamento, a criação de uma agência
municipal reguladora de água e esgoto e uma reforma institucional na própria
SESAN.
As negociações da Prefeitura junto ao BID para
contrair a operação de crédito continuam, assim como o trabalho de mediação do
Ministério Público e a mobilização política da FMPBU e demais moradores da
Bacia do Una. A previsão de início das obras é o segundo semestre de 2020.
Enquanto isso, para o movimento social é necessário se apropriar do conteúdo do
novo manual de saneamento, cobrar e acompanhar as ações emergenciais contra
inundações e alagamentos, assim como pautar não apenas a
"reabilitação" de obras já realizadas na Bacia do Una, mas também a
inclusão de áreas desassistidas pelo Projeto Una para as quais ainda não há
previsão de qualquer intervenção por parte do poder público.