segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una: Trajetória e Ações do Movimento Social

A FMPBU e a luta pelo saneamento em Belém

           
            O conflito na Bacia do Una está ligado aos impactos das obras do Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una, realizado com recursos do Estado do Pará através de financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Os moradores afirmam  que após a conclusão do referido projeto em 2004 o conjunto de obras não recebeu a manutenção necessária, o que tem causado alagamentos por transbordamento dos canais mesmo em áreas que não inundavam antes da execução do Projeto Una.

            Os moradores também estão cientes que há obras deixadas pendentes pelo projeto como canais que não sofreram intervenção (a exemplo do Canal Antônia Nunes e do Canal das Malvinas) e ruas sem terraplenagem, asfaltamento e drenagem superficial. A falta da realização dessas obras também tem comprometido a funcionalidade do sistema de macrodrenagem implantado pelo Projeto Una.

            O Projeto Una também previa a construção de Estações de Tratamento de Esgoto para atender a demanda das residências dos 20 bairros da Bacia do Una e assim melhorar progressivamente a qualidade da água dos canais, que atualmente recebem todo o esgoto sanitário da região. Como as ETEs não foram construídas, os moradores da Bacia do Una não apenas tem suas casas invadidas pela água quando os canais transbordam, mas também pelos dejetos sanitários que são despejados nos mesmos canais.

            Além da falta de manutenção do sistema de macrodrenagem, de obras não realizadas e de ETEs não construídas, os maquinários veículos e equipamentos destinados à manutenção do conjunto de obras do Projeto Una foram extraviados. Em 2013 uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi instaurada na Câmara Municipal de Belém para investigar o paradeiro dos equipamentos e em 2014 foi divulgado (Diário Oficial da Câmara nº 1607 de 15, 16, 17, 18 e 19 de dezembro de 2014, páginas 3 a 6) que os maquinários, veículos e equipamentos haviam sido ilegalmente apropriados pela empresa Belém Ambiental S.A.. Há indícios de que essa empresa está registrada no nome de um ex-assessor de Duciomar Costa, prefeito de Belém na época em que os maquinários, veículos e equipamentos foram entregues pelo governo do estado à administração municipal.

            Este é um conflito que já foi judicializado. Em 2008, devido ao acúmulo de denúncias feitos por moradores sobre inundações e falta de manutenção nos canais da Bacia do Una, o Ministério Público – através da 2ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio, Patrimônio Cultural, Habitação Urbanismo – ajuizou uma Ação Civil Ambiental (processo de  nº 0014371-32.2008.814.0301) contra o Estado, a Prefeitura e a COSANPA pela obrigação de fazer a manutenção no conjunto de obras na Bacia do Una, bem como a realização de obras complementares de microdrenagem que ficaram pendentes após a conclusão do Projeto Una.

            A Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU) surgiu em 2013 diante da necessidade da existência de uma entidade de representação dos cidadãos que efetuaram as denúncias ao Ministério Público. A estratégia da criação desta sigla era proteger o anonimato e conferir maior legitimidade aos moradores prejudicados com inundações da Bacia do Una na assinatura de documentos, participação em audiências públicas e reuniões com autoridades do município e do estado.

FMPBU se pronunciando no Fórum Municipal das Vítimas de Alagamentos em Belém, realizado na Casa de Shows A Pororoca em fevereiro de 2013.


            Desde então a Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una tem realizado diversas ações de denúncia e também ações educativas relacionadas ao problema das inundações na Bacia do Una e em Belém como um todo. Entre essas ações, se destacaram:


– Participação nas manifestações de junho e julho de 2013, quando foi distribuído o seguinte comunicado:

COMUNICADO
Diante ao agravamento da situação calamitosa causadora de sofrimento, transtornos, prejuízos materiais e danos de ordem moral a significativa parcela da população de Belém, com os constantes alagamentos. Em face à incessante busca por nossos direitos ao saneamento básico e ambiental, ao ir e vir, à moradia com dignidade, à saúde pública, à melhoria da qualidade de vida e, no mínimo, à dignidade humana. Comunicamos aos Cidadãos da Bacia do Una, (constituída por 20 bairros, sendo 4 de forma parcial: Marco, Nazaré, São Brás e Umarizal e 16 de forma integral: Barreiro, Benguí, Cabanagem, Castanheira, Fátima, Mangueirão, Maracangalha, Marambaia, Miramar, Parque Verde, Pedreira, Sacramenta, Souza, Telégrafo, Una e Val-de-Cans, sendo desde a fase de execução do projeto dividida em 7 sub-bacias), que tramita no Poder Público Judiciário do Estado do Pará, o Processo de n◦ 0014371-32.2008.814.0301, relativo à Ação Civil Pública Ambiental, ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Pará (3ᵃ Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo de Belém), onde a Prefeitura Municipal de Belém, a Companhia de Saneamento do Pará – COSANPA e o Estado do Pará, respondem desde o dia 16 de abril de 2008 ao MM. Sr. Juiz de Direito, Dr. Marco Antônio Lobo Castelo Branco, (Titular da 2ᵃ Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital), pela "Obrigação de Fazer" a execução das várias obras complementares de Microdrenagem que ficaram pendentes espalhadas pelas 7 Sub-bacias e a manutenção periódica do Conjunto de Obras executadas pelo Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una, agrupado em três grandes sistemas: Viário, Macrordrenagem (17 canais, 6 galerias e duas comportas) e Saneamento, nos termos especificados pelos Manuais de Operação e Manutenção do Sistema de Esgoto Sanitário e Água Potável da Bacia do Una, agosto de 2001; Operação e Manutenção de Drenagem, Vias e Obras de Artes Especiais da Bacia do Una – Volume I, maio de 2002 e de Operação e Manutenção das Comportas do Una e Jacaré, com a utilização dos equipamentos, maquinários e veículos, avaliados em R$ 21.977.619,75, que foram adquiridos pelo Estado do Pará (mutuário final) com os recursos do contrato de financiamento firmado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID (órgão financiador), repassados no dia 02 de janeiro de 2005 ao Acervo Físico Patrimonial do Município de Belém. Valendo ressaltar, que o uso inadequado, o desvio e o paradeiro dado, por parte da Prefeitura Municipal de Belém de tais equipamentos, maquinários e veículos são hoje, objeto de investigação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, instalada na Câmara Municipal de Belém.
Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una.

Membro da FMPBU panfletando cidadão na Praça da República.

– Criação de um blog <  frentebaciadouna.blogspot.com > para divulgação da problemática e organização de acervo em setembro de 2013;

– Participação do evento Quintas Urbanas organizado pelo Programa de Apoio à Reforma Urbana (PARU/UFPA) com o tema "Urbanização e desigualdades em Belém (PA): a Macrodrenagem da Bacia do Una", em outubro de 2013;

– Participação em reunião com a relatora especial da ONU para assuntos de Saneamento Catarina Albuquerque no Sindicato dos Urbanitários do Estado do Pará (STIUPA) em dezembro de 2013;

Adicionar legenda

– Denúncia do abandono das obras da Bacia do Una ao próprio BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) através do MICI (Mecanismo Independente de Consulta e Investigação), uma espécie de corregedoria do BID, em março de 2014;

– Participação, juntamente com cidadãos da Bacia do Una e outras lideranças da Bacia do Una, das visitas técnicas do MPE-PA às obras do Projeto Una em novembro de 2014;
Equipe multidisciplinar do MPE-PA às margens do Canal Água Cristal, Bairro da Marambaia, Sub-Bacia V do Projeto Una.

Equipe Multidisciplinar do MPE-PA acompanhada por membros da FMPBU e moradores na Passagem Santa Terezinha, pendência de microdrenagem deixada pelo Projeto Una na Avenida 9 de janeiro entre as ruas Domingos Marreiros e Antônio Barreto, Bairro do Umarizal, Sub-Bacia I do Projeto Una.

– Participação da Audiência Pública sobre alagamentos e inundações na cidade de Belém promovida pela Comissão de Meio Ambiente da OAB/PA em março de 2015;

FMPBU compondo a mesa da audiência pública junto com parlamentares e a Comissão de Meio Ambiente da OAB/PA.

– Participação do evento "Planejamento do saneamento sob a ótica da política pública", organizado pelo PARU/UFPA e pela FASE em junho de 2015;

– Participação, como convidados da Comissão de Meio Ambiente da OAB/PA e da Comissão de Direitos Humanos da ALEPA, no Painel de Água e Esgoto e no Painel de Direito à Moradia  da VI Conferência Interamericana de Direitos Humanos em agosto de 2015, o que rendeu dois subprodutos: 1) Encaminhamento das denúncias ao Ministério das Cidades e 2) Início da Interlocução com a Defensoria Púlica do Estado do Pará;

 – Participação no evento "A reforma urbana em debate" realizado pelo PARU/UFPA em setembro de 2015;

– Participação, junto com moradores da Bacia do Una e movimentos sociais da Bacia do Tucunduba e da Estrada Nova da roda de conversa "Intervenções urbanísticas e conflitos socioambientais: o papel da Universidade Federal do Pará", organizado pelo PARU/UFPA em agosto de 2016;

– Denúncia do abandono da Bacia do Una durante a ocupação da Universidade Federal do Pará em eventos organizados pelo Observatório dos Conflitos Urbanos e pelo PARU/UFPA em dezembro de 2016;

– Organização e participação no ato público "Direitos Humanos não combinam com descaso", junto com o Comitê Popular Urbano (CPU) questionando alagamentos em Belém, as deficiências na infraestrutura urbana e a morosidade do Judiciário, realizado em referência ao Dia Internacional dos Direitos Humanos em dezembro de 2016;



– Participação na abertura do ano legislativo da Câmara Municipal de Belém em fevereiro de 2017 questionando as inundações na Bacia do Una e cobrando encaminhamentos das questões verificadas pela CPI instaurada na CMB entre 2013 e 2014;

– Atualmente a FMPBU está participando em diálogo com a OAB/PA, o PARU/UFPA e o MPE/PA da produção de um Termo de Ajustamento de Conduta, que consiste em um acordo entre o MPE/PA e o Estado, a Prefeitura e a COSANPA, os quais são os réus na já citada Ação Civil Pública Ambiental referente ao processo de  nº 0014371-32.2008.814.0301.



              Os questionamentos da Frente de Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU) se dirigem em três frentes:

1) A omissão e a falta de ética do Poder Público Executivo nos âmbitos municipal e estadual pela falta de manutenção do conjunto de obras do Projeto Una, pelo extravio e apropriação indevida dos maquinários destinados a essa manutenção e pela transformação dos canais da cidade em esgotos a céu aberto devido à falta de Estações de Tratamento de Esgoto;

2) A morosidade e inoperância do Poder Judiciário e do Ministério Público Estadual no tramite do Processo de nº 0014371-32.2008.814.0301, relativo à Ação Civil Pública Ambiental contra o Estado, a Prefeitura e a COSANPA.

Soma-se a isto o silêncio e a falta de posicionamento desde o ano de 2007 por parte do Ministério Público do Estado do Pará, através da Promotoria de Justiça de Direitos Constitucionais, Fundamentais, Defesa do Patrimônio Público e Moralidade Administrativa, a respeito das inúmeras denúncias que apontam indícios característicos de improbidade administrativa por parte da Prefeitura Municipal de Belém, acerca dos equipamentos, maquinários e veículos, avaliados em R$ 21.977.619,75, que foram adquiridos pelo Estado do Pará (mutuário final) com os recursos do contrato de financiamento firmado com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID (órgão financiador), repassados no dia 02 de janeiro de 2005 ao Acervo Físico Patrimonial do Município de Belém, estando destinados à manutenção do conjunto de obras executadas pelo Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una;

3) O silêncio do Conselho Gestor da Bacia do Una (CONGEB/UNA), cujos membros permaneceram inertes diante das irregularidades, inundações e desvio do equipamentos para manutenção da Bacia do Una. A maioria de seus membros recebeu cargos DAS em secretarias da prefeitura, o que comprometeu o desempenho das responsabilidades de fiscalização, cobrança e denúncia do referido Conselho Gestor, que deveria ser a entidade representativa dos moradores da Bacia do Una após o término das obras;

4) O desinteresse do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) pelo resultado de seus investimentos. Embora a manutenção do sistema de obras pela prefeitura e o envio de relatórios sazonais pela COSANPA estivessem previstos no contrato do empréstimo contraído pelo Estado do Pará para a realização do Projeto Una, o BID não tomou providências quando essas obrigações legais não foram cumpridas. Mesmo diante de denúncias de improbidade administrativa, da constatação de corrupção envolvendo o Projeto Una e do não cumprimento de cláusulas do contrato de financiamento com o Governo do Estado para as obras do Projeto Una o BID continua financiando projetos da mesma ordem como a Macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova.



            A Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una sustenta que as inundações e alagamentos na Bacia do Una são o resultado combinado destes quatro fatores que continuam contribuindo para a violação dos direitos humanos de boa parte da população de Belém. Este movimento social concebe a cidade e seus corpos drenantes como parte de um sistema metabólico que inclui não apenas a drenagem, mas o esgotamento sanitário e o abastecimento de água. Logo, a FMPBU se considera um movimento social urbano pelo direito à moradia digna e ao saneamento básico e ambiental. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O surgimento do Comitê Popular Urbano - CPU

Por Alexandre Costa,

Membro da Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una - FMPBU



Ato Público "Direitos Humanos não combinam com descaso" do Comitê Popular Urbano em 13 de dezembro de 2016.  




O Comitê Popular Urbano - CPU - surgiu em janeiro de 2014 como resultado da necessidade de discutirmos a problemática dos alagamentos e inundações na Bacia do Una, após a "conclusão" do Projeto de Macrodrenagem que durou de 1980 a 2005. Entendemos que o saneamento básico deve ser discutido pelo prisma da discussão sobre reforma urbana, assim como também é, por exemplo, a tarifação do transporte público coletivo.

            No ano de 2013 durante as manifestações das chamadas jornadas de junho, ocorridas aqui em Belém a Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU), através de um comunicado impresso em folhas de papel tamanho A-4, denunciou ao público participante das referidas manifestações, a falta de posicionamento do Ministério Público do Estado do Pará (MPEPA), que apesar de no ano de 2008 através da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo de Belém, ter judicializado a problemática dos alagamentos e inundações na Bacia do Una junto ao Poder Judiciário do Estado do Pará, não se manifestava diante da morosidade da justiça paraense com relação ao andamento da Ação Civil Pública Ambiental em tramitação na segunda Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital. Como se não bastasse a omissão já citada, o órgão ministerial também não tomava providências por meio da Promotoria de Direitos Constitucionais, Fundamentais, Defesa do Patrimônio Público e Moralidade Administrativa, com relação às denúncias efetuadas no ano de 2007, que apontaram indícios de improbidade administrativa acerca dos equipamentos, maquinários e veículos que foram repassados no ano de 2005 pelo Estado do Pará através da COSANPA, à Prefeitura Municipal de Belém, destinados para a conservação e a manutenção tecnoperiódica do conjunto de obras do Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una durante a gestão do então Prefeito de Belém Duciomar Gomes da Costa.

            No final do mês de outubro de 2013, este fato chamou a atenção dos integrantes do Movimento Belém Livre (MBL), que ao se reencontrarem com integrantes da Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU) em um Seminário promovido pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDHPA) sobre a Desmilitarização da Amazônia, realizado no Auditório da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB/Regional Norte II), consolidaram laços de solidariedade em suas respectivas lutas.

            O MBL questionava as tarifas dos ônibus e discutia a possibilidade do direito ao passe-livre pelos estudantes nos transportes públicos coletivos de Belém.

            Por sua vez, a FMPBU questionava a violação dos direitos humanos ao saneamento básico e ambiental, ao ir e vir, à moradia com dignidade, à saúde pública e, no mínimo, à própria dignidade humana de significativa parcela da população de Belém, em face ao sofrimento, transtornos, prejuízos materiais e danos de ordem moral, em decorrência dos constantes alagamentos e inundações.

            Em consequência das denúncias realizadas nas ruas de Belém em junho de 2013 o comunicado da FMPBU chegou até a Academia pelas mãos da Professora Drª Jurandir Santos de Novaes, membro do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará (ICSA/UFPA), que no mês de novembro do mesmo ano, por meio da coordenação do Programa de Apoio à Reforma Urbana da Universidade Federal do Pará (PARU/UFPA), convida a FMPBU para participar da ação de extensão universitária denominada "Quintas Urbanas", um ciclo de palestras e debates entre a Academia e Movimentos Sociais que ocorria toda última quintafeira do mês.

            O representante da FMPBU convidado para o evento fora informado pela Professora Drª Sandra Helena Ribeiro Cruz, na época Coordenadora do PARU/UFPA, da possibilidade de levar um convidado para a mesa de debate do já citado "Quintas Urbanas". Assim, não pensou duas vezes e telefonou ao já amigo Jorge André Silva membro do Movimento Belém Livre (MBL), que logo cedeu ao apelo.

            Posteriormente, tendo em mente a idéia de unificação das lutas, Jorge André socializou o texto de autoria de Pedro Fiori Arantes sob o título: "Da (Anti) Reforma Urbana brasileira a um novo ciclo de lutas nas cidades" (clique aqui para acessar o texto) e convidou o amigo integrante da Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU) para retornarem até a UFPA munidos do referido texto, objetivando uma discussão sobre o mesmo com alunos, professores e pesquisadores do PARU/UFPA.

            A discussão sobre o texto e o compartilhamento de experiências entre a Academia e os Movimentos Sociais presentes levaram à conclusão pela Professora Drª Sandra Helena Ribeiro Cruz de que tanto a FMPBU quanto o MBL estavam discutindo sobre o tema da Reforma Urbana, porém de maneira fragmentada.


            Assim surge o Comitê Popular Urbano. Isto é, a partir da unificação de coletivos populares e de suas reivindicações em torno do tema da Reforma Urbana, a qual consiste em uma agenda de medidas responsáveis pela promoção do direito à cidade e à melhoria da qualidade de vida nas cidades Brasileiras. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

FMPBU aparece em reportagem da RBA

A matéria sobre a situação da Bacia do Una foi exibida no dia 12 de janeiro de 2017 com o título: "Bacia do Una - a obra de 312 milhões que ainda alaga".

Confira:


A abertura do ano legislativo na CMB - Manifesto



Nesta quarta–feira, dia 01 de fevereiro, ocorreu a abertura do ano legislativo na Câmara  Municipal dos Vereadores de Belém, evento que contou com a participação do prefeito reeleito. Infelizmente, a sessão que deveria ser pública, foi fechada à participação e presença popular. Do lado de fora da chamada "Galeria Popular" era possível constatar que não se tratava de falta de espaço. Havia muitos lugares vagos na plenária.






         A presença da FMPBU no referido evento tinha pouca ou nenhuma relação com os impasses relacionados à cassação do prefeito reeleito. É claro que temos críticas à gestão do atual gestor municipal, assim como a grande maioria dos belemenses, mas não era esse o mote de nossa presença na CMB. Buscávamos, na verdade, protocolar e entregar um documento ao presidente da câmara e articular a sua apresentação à plenária. Este documento é um manifesto sobre a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que, entre 2013 e 2014, investigou o desaparecimento das máquinas entregues à prefeitura em 2005 para que esta fizesse a manutenção e conservação das obras do Projeto Una. Nossa intenção era chamar atenção dos parlamentares que participaram desta CPI, bem como provocar aqueles que havia sido eleitos na última eleição. O documento contém um resumo dos eventos que levaram à abertura da CPI e algumas questões dirigidas à CMB sobre os resultados do processo.

         No entanto, aos integrantes da FMPBU – e a outros membros de coletivos populares – foi vedado o acesso à plenária e não pudemos apresentar nossas demandas para iniciar um diálogo com a casa legislativa neste novo mandato. Talvez o prefeito temesse algum tipo de hostilidade por parte daqueles que ficaram do lado de fora. Não o culpamos. Temos observado que, na história recente do Brasil, pessoas sem legitimidade nos cargos que ocupam não conseguem lidar com vaias.

         
Segue na íntegra, o manifesto:





 

Belém, quarta-feira 01 de fevereiro de 2017

Ao Exmo. Sr.
Vereador Mauro Freitas
DD. Presidente da Câmara Municipal de Belém – CMB
Palácio Augusto Meira Filho
Trav. Curuzu nº 1775, 1º andar – Marco
Nesta.


Manifesto sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou irregularidades na transferência, para empresas da iniciativa privada, de equipamentos, maquinários e veículos doados pelo Governo do Estado do Pará ao Município de Belém

Senhor Presidente,


         Entre o período de 1993 e 2004 a Bacia do Una sofreu uma intervenção física com a execução do Projeto de Drenagem, Vias e Esgoto das Zonas Baixas de Belém, popularmente conhecido como Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una ou Projeto Una. As obras deste ambicioso projeto foram agrupadas em 3 grandes sistemas: o de saneamento, o viário e o de macrodrenagem (17 canais, 6 galerias e 2 comportas). Para a conservação e manutenção técnica dessas obras, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) financiou a aquisição de equipamentos, veículos e maquinários avaliados em R$ 21.977.619,75 por meio do Estado do Pará. Conforme ata de reunião realizada no dia 02 de janeiro de 2005 (em anexo) estes maquinários, veículos e equipamentos foram repassados do Estado do Pará – através da COSANPA – para o acervo físico e patrimonial do Município de Belém. De posse desses veículos, maquinários e equipamentos, a Prefeitura Municipal – através da SESAN – se comprometeu a realizar a manutenção técnica do conjunto de obras do Projeto Una, conforme estava previsto na cláusula 6.05 dos contratos de empréstimo nº 649/OC-BR e 869/SF-BR firmados entre o Estado do Pará (mutuário final) e o BID (órgão financiador).

         Com o passar dos anos, os sucessivos alagamentos em diversos pontos da Bacia do Una tornaram evidente que a manutenção prevista no conjunto de obras do Projeto Una não estava ocorrendo. Visitas técnicas realizadas em 2011 pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo do Ministério Público do Estado do Pará; em 2012 uma Comissão Temporária Externa da ALEPA formada a partir de denúncias à Comissão Permanente de direitos Humanos e Defesa do Consumidor, bem como em 2014 novamente pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo do MPE-PA confirmaram duas ocorrências. A primeira, é que não há manutenção nas obras do Projeto Una desde 2005. A segunda, é que os alagamentos e as inundações causadas por transbordamento de canais e obstrução de redes de drenagem são resultantes da falta de manutenção e conservação das obras do referido projeto de acordo com a observância de três manuais produzidos por técnicos da COSANPA e revisados por técnicos da SESAN. A saber: 1) Manual de Operação e Manutenção do Sistema de Esgoto Sanitário e Água Potável da Bacia do Una, de agosto de 2001; 2) Manual de Operação e Manutenção de Drenagem, Vias e Obras de Arte Especiais da Bacia do Una, volumes I e II, de maio de 2002 e 3) Manual de Operação e Manutenção das Comportas do Una e do Jacaré, maio de 2002.

         A perda da plenitude funcional do Projeto Una resultou em prejuízos materiais e danos de ordem moral que significam a violação dos direitos humanos, ao saneamento básico e ambiental, ao ir e vir, à moradia com dignidade, à saúde pública e, no mínimo, à própria dignidade humana. Isto levou cidadãos da Bacia do Una, movimentos sociais e setores da academia a questionarem sobre o paradeiro e utilização dos equipamentos, maquinários e veículos destinados à manutenção técnica do conjunto de obras do referido projeto de macrodrenagem.

Ressaltamos ainda que em 2007, o então Secretário Municipal de Saneamento Luiz Otávio Mota Pereira pediu demissão do seu cargo, entregando uma carta à administração municipal na qual insinuava a existência de irregularidades no uso dos já citados equipamentos, maquinários e veículos. No ano de 2013, os alagamentos e inundações na Bacia do Una atingiram proporções catastróficas, conferindo novamente visibilidade a esta questão e chamando também a atenção de parlamentares da Câmara Municipal de Belém.

No primeiro semestre de 2013 a Vereadora Ivanize Gasparim, por meio do requerimento nº 73/2013, solicitou a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito com o objetivo de investigar indícios de irregularidades na transferência da Prefeitura Municipal para empresas privadas dos veículos, equipamentos e maquinários avaliados em R$ 21.977.619,75 e que deveriam ter sido utilizados exclusivamente na manutenção e conservação do conjunto de obras do Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una.

         Assim, nos fazemos presentes nesta primeira sessão parlamentar para discutir a efetividade dos resultados da CPI que foi instalada nesta casa legislativa no ano de 2013. Com base nos resultados obtidos na referida CPI, conforme aparece no Diário Oficial da Câmara nº 1607 de 15, 16, 17, 18 e 19 de dezembro de 2014, páginas 3 a 6, nos dirigimos à Câmara Municipal dos Vereadores de Belém e questionamos:
          

1)    Mesmo aproximadamente três anos após a conclusão das atividades da referida CPI (dezembro de 2014), os cidadãos da Bacia do Una continuam a sofrer vítimas de desnecessários alagamentos e inundações;

2)    Apesar das atividades de investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito, ainda não se observou a recuperação por parte da Prefeitura Municipal e o uso efetivo dos equipamentos extraviados ou adquiridos ilegalmente por empresas privadas;

3)    Ainda que se constate a ausência dos equipamentos, maquinários e veículos cujo desaparecimento e mau uso foram objeto da CPI, ainda não há previsão de orçamento para aquisição de novos equipamentos em substituição aos extraviados, de modo a garantir a especificações técnicas dos três manuais citados;

4)    Não obstante o encaminhamento do relatório final da CPI ao Ministério Público do Estado do Pará, ainda não existe Procedimento Administrativo Investigatório ou Ação Civil Pública por improbidade administrativa contra a Prefeitura Municipal e os demais envolvidos nas irregularidades constatadas.


Os cidadãos da Bacia do Una em geral, a Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU), o Comitê Popular Urbano (CPU), o Programa de Apoio à Reforma Urbana da Universidade Federal do Pará (PARU/UFPA) e o Laboratório de Pesquisa e Práticas Sociais na Amazônia da Universidade Federal do Pará (LABPSAM/UFPA) se colocam à disposição para o diálogo com a Câmara Municipal de Belém durante o exercício deste novo mandato, de forma que seja dado o devido encaminhamento aos resultados obtidos pela referida Comissão Parlamentar de Inquérito, principalmente no que diz respeito à responsabilização pelas irregularidades e omissões que têm causado violações a direitos básicos na Bacia do Una, bem como à reparação aos danos sofridos por significativa parcela da população de Belém.



Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una – FMPBU


Comitê Popular Urbano – CPU


Programa de Apoio à Reforma Urbana – PARU/UFPA


Laboratório de Pesquisa e Práticas Sociais da Amazônia – LABSAM/UFPA