segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O surgimento do Comitê Popular Urbano - CPU

Por Alexandre Costa,

Membro da Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una - FMPBU



Ato Público "Direitos Humanos não combinam com descaso" do Comitê Popular Urbano em 13 de dezembro de 2016.  




O Comitê Popular Urbano - CPU - surgiu em janeiro de 2014 como resultado da necessidade de discutirmos a problemática dos alagamentos e inundações na Bacia do Una, após a "conclusão" do Projeto de Macrodrenagem que durou de 1980 a 2005. Entendemos que o saneamento básico deve ser discutido pelo prisma da discussão sobre reforma urbana, assim como também é, por exemplo, a tarifação do transporte público coletivo.

            No ano de 2013 durante as manifestações das chamadas jornadas de junho, ocorridas aqui em Belém a Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU), através de um comunicado impresso em folhas de papel tamanho A-4, denunciou ao público participante das referidas manifestações, a falta de posicionamento do Ministério Público do Estado do Pará (MPEPA), que apesar de no ano de 2008 através da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo de Belém, ter judicializado a problemática dos alagamentos e inundações na Bacia do Una junto ao Poder Judiciário do Estado do Pará, não se manifestava diante da morosidade da justiça paraense com relação ao andamento da Ação Civil Pública Ambiental em tramitação na segunda Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital. Como se não bastasse a omissão já citada, o órgão ministerial também não tomava providências por meio da Promotoria de Direitos Constitucionais, Fundamentais, Defesa do Patrimônio Público e Moralidade Administrativa, com relação às denúncias efetuadas no ano de 2007, que apontaram indícios de improbidade administrativa acerca dos equipamentos, maquinários e veículos que foram repassados no ano de 2005 pelo Estado do Pará através da COSANPA, à Prefeitura Municipal de Belém, destinados para a conservação e a manutenção tecnoperiódica do conjunto de obras do Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una durante a gestão do então Prefeito de Belém Duciomar Gomes da Costa.

            No final do mês de outubro de 2013, este fato chamou a atenção dos integrantes do Movimento Belém Livre (MBL), que ao se reencontrarem com integrantes da Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU) em um Seminário promovido pela Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDHPA) sobre a Desmilitarização da Amazônia, realizado no Auditório da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB/Regional Norte II), consolidaram laços de solidariedade em suas respectivas lutas.

            O MBL questionava as tarifas dos ônibus e discutia a possibilidade do direito ao passe-livre pelos estudantes nos transportes públicos coletivos de Belém.

            Por sua vez, a FMPBU questionava a violação dos direitos humanos ao saneamento básico e ambiental, ao ir e vir, à moradia com dignidade, à saúde pública e, no mínimo, à própria dignidade humana de significativa parcela da população de Belém, em face ao sofrimento, transtornos, prejuízos materiais e danos de ordem moral, em decorrência dos constantes alagamentos e inundações.

            Em consequência das denúncias realizadas nas ruas de Belém em junho de 2013 o comunicado da FMPBU chegou até a Academia pelas mãos da Professora Drª Jurandir Santos de Novaes, membro do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Pará (ICSA/UFPA), que no mês de novembro do mesmo ano, por meio da coordenação do Programa de Apoio à Reforma Urbana da Universidade Federal do Pará (PARU/UFPA), convida a FMPBU para participar da ação de extensão universitária denominada "Quintas Urbanas", um ciclo de palestras e debates entre a Academia e Movimentos Sociais que ocorria toda última quintafeira do mês.

            O representante da FMPBU convidado para o evento fora informado pela Professora Drª Sandra Helena Ribeiro Cruz, na época Coordenadora do PARU/UFPA, da possibilidade de levar um convidado para a mesa de debate do já citado "Quintas Urbanas". Assim, não pensou duas vezes e telefonou ao já amigo Jorge André Silva membro do Movimento Belém Livre (MBL), que logo cedeu ao apelo.

            Posteriormente, tendo em mente a idéia de unificação das lutas, Jorge André socializou o texto de autoria de Pedro Fiori Arantes sob o título: "Da (Anti) Reforma Urbana brasileira a um novo ciclo de lutas nas cidades" (clique aqui para acessar o texto) e convidou o amigo integrante da Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU) para retornarem até a UFPA munidos do referido texto, objetivando uma discussão sobre o mesmo com alunos, professores e pesquisadores do PARU/UFPA.

            A discussão sobre o texto e o compartilhamento de experiências entre a Academia e os Movimentos Sociais presentes levaram à conclusão pela Professora Drª Sandra Helena Ribeiro Cruz de que tanto a FMPBU quanto o MBL estavam discutindo sobre o tema da Reforma Urbana, porém de maneira fragmentada.


            Assim surge o Comitê Popular Urbano. Isto é, a partir da unificação de coletivos populares e de suas reivindicações em torno do tema da Reforma Urbana, a qual consiste em uma agenda de medidas responsáveis pela promoção do direito à cidade e à melhoria da qualidade de vida nas cidades Brasileiras. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

FMPBU aparece em reportagem da RBA

A matéria sobre a situação da Bacia do Una foi exibida no dia 12 de janeiro de 2017 com o título: "Bacia do Una - a obra de 312 milhões que ainda alaga".

Confira:


A abertura do ano legislativo na CMB - Manifesto



Nesta quarta–feira, dia 01 de fevereiro, ocorreu a abertura do ano legislativo na Câmara  Municipal dos Vereadores de Belém, evento que contou com a participação do prefeito reeleito. Infelizmente, a sessão que deveria ser pública, foi fechada à participação e presença popular. Do lado de fora da chamada "Galeria Popular" era possível constatar que não se tratava de falta de espaço. Havia muitos lugares vagos na plenária.






         A presença da FMPBU no referido evento tinha pouca ou nenhuma relação com os impasses relacionados à cassação do prefeito reeleito. É claro que temos críticas à gestão do atual gestor municipal, assim como a grande maioria dos belemenses, mas não era esse o mote de nossa presença na CMB. Buscávamos, na verdade, protocolar e entregar um documento ao presidente da câmara e articular a sua apresentação à plenária. Este documento é um manifesto sobre a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que, entre 2013 e 2014, investigou o desaparecimento das máquinas entregues à prefeitura em 2005 para que esta fizesse a manutenção e conservação das obras do Projeto Una. Nossa intenção era chamar atenção dos parlamentares que participaram desta CPI, bem como provocar aqueles que havia sido eleitos na última eleição. O documento contém um resumo dos eventos que levaram à abertura da CPI e algumas questões dirigidas à CMB sobre os resultados do processo.

         No entanto, aos integrantes da FMPBU – e a outros membros de coletivos populares – foi vedado o acesso à plenária e não pudemos apresentar nossas demandas para iniciar um diálogo com a casa legislativa neste novo mandato. Talvez o prefeito temesse algum tipo de hostilidade por parte daqueles que ficaram do lado de fora. Não o culpamos. Temos observado que, na história recente do Brasil, pessoas sem legitimidade nos cargos que ocupam não conseguem lidar com vaias.

         
Segue na íntegra, o manifesto:





 

Belém, quarta-feira 01 de fevereiro de 2017

Ao Exmo. Sr.
Vereador Mauro Freitas
DD. Presidente da Câmara Municipal de Belém – CMB
Palácio Augusto Meira Filho
Trav. Curuzu nº 1775, 1º andar – Marco
Nesta.


Manifesto sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou irregularidades na transferência, para empresas da iniciativa privada, de equipamentos, maquinários e veículos doados pelo Governo do Estado do Pará ao Município de Belém

Senhor Presidente,


         Entre o período de 1993 e 2004 a Bacia do Una sofreu uma intervenção física com a execução do Projeto de Drenagem, Vias e Esgoto das Zonas Baixas de Belém, popularmente conhecido como Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una ou Projeto Una. As obras deste ambicioso projeto foram agrupadas em 3 grandes sistemas: o de saneamento, o viário e o de macrodrenagem (17 canais, 6 galerias e 2 comportas). Para a conservação e manutenção técnica dessas obras, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) financiou a aquisição de equipamentos, veículos e maquinários avaliados em R$ 21.977.619,75 por meio do Estado do Pará. Conforme ata de reunião realizada no dia 02 de janeiro de 2005 (em anexo) estes maquinários, veículos e equipamentos foram repassados do Estado do Pará – através da COSANPA – para o acervo físico e patrimonial do Município de Belém. De posse desses veículos, maquinários e equipamentos, a Prefeitura Municipal – através da SESAN – se comprometeu a realizar a manutenção técnica do conjunto de obras do Projeto Una, conforme estava previsto na cláusula 6.05 dos contratos de empréstimo nº 649/OC-BR e 869/SF-BR firmados entre o Estado do Pará (mutuário final) e o BID (órgão financiador).

         Com o passar dos anos, os sucessivos alagamentos em diversos pontos da Bacia do Una tornaram evidente que a manutenção prevista no conjunto de obras do Projeto Una não estava ocorrendo. Visitas técnicas realizadas em 2011 pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo do Ministério Público do Estado do Pará; em 2012 uma Comissão Temporária Externa da ALEPA formada a partir de denúncias à Comissão Permanente de direitos Humanos e Defesa do Consumidor, bem como em 2014 novamente pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Cultural, Habitação e Urbanismo do MPE-PA confirmaram duas ocorrências. A primeira, é que não há manutenção nas obras do Projeto Una desde 2005. A segunda, é que os alagamentos e as inundações causadas por transbordamento de canais e obstrução de redes de drenagem são resultantes da falta de manutenção e conservação das obras do referido projeto de acordo com a observância de três manuais produzidos por técnicos da COSANPA e revisados por técnicos da SESAN. A saber: 1) Manual de Operação e Manutenção do Sistema de Esgoto Sanitário e Água Potável da Bacia do Una, de agosto de 2001; 2) Manual de Operação e Manutenção de Drenagem, Vias e Obras de Arte Especiais da Bacia do Una, volumes I e II, de maio de 2002 e 3) Manual de Operação e Manutenção das Comportas do Una e do Jacaré, maio de 2002.

         A perda da plenitude funcional do Projeto Una resultou em prejuízos materiais e danos de ordem moral que significam a violação dos direitos humanos, ao saneamento básico e ambiental, ao ir e vir, à moradia com dignidade, à saúde pública e, no mínimo, à própria dignidade humana. Isto levou cidadãos da Bacia do Una, movimentos sociais e setores da academia a questionarem sobre o paradeiro e utilização dos equipamentos, maquinários e veículos destinados à manutenção técnica do conjunto de obras do referido projeto de macrodrenagem.

Ressaltamos ainda que em 2007, o então Secretário Municipal de Saneamento Luiz Otávio Mota Pereira pediu demissão do seu cargo, entregando uma carta à administração municipal na qual insinuava a existência de irregularidades no uso dos já citados equipamentos, maquinários e veículos. No ano de 2013, os alagamentos e inundações na Bacia do Una atingiram proporções catastróficas, conferindo novamente visibilidade a esta questão e chamando também a atenção de parlamentares da Câmara Municipal de Belém.

No primeiro semestre de 2013 a Vereadora Ivanize Gasparim, por meio do requerimento nº 73/2013, solicitou a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito com o objetivo de investigar indícios de irregularidades na transferência da Prefeitura Municipal para empresas privadas dos veículos, equipamentos e maquinários avaliados em R$ 21.977.619,75 e que deveriam ter sido utilizados exclusivamente na manutenção e conservação do conjunto de obras do Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una.

         Assim, nos fazemos presentes nesta primeira sessão parlamentar para discutir a efetividade dos resultados da CPI que foi instalada nesta casa legislativa no ano de 2013. Com base nos resultados obtidos na referida CPI, conforme aparece no Diário Oficial da Câmara nº 1607 de 15, 16, 17, 18 e 19 de dezembro de 2014, páginas 3 a 6, nos dirigimos à Câmara Municipal dos Vereadores de Belém e questionamos:
          

1)    Mesmo aproximadamente três anos após a conclusão das atividades da referida CPI (dezembro de 2014), os cidadãos da Bacia do Una continuam a sofrer vítimas de desnecessários alagamentos e inundações;

2)    Apesar das atividades de investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito, ainda não se observou a recuperação por parte da Prefeitura Municipal e o uso efetivo dos equipamentos extraviados ou adquiridos ilegalmente por empresas privadas;

3)    Ainda que se constate a ausência dos equipamentos, maquinários e veículos cujo desaparecimento e mau uso foram objeto da CPI, ainda não há previsão de orçamento para aquisição de novos equipamentos em substituição aos extraviados, de modo a garantir a especificações técnicas dos três manuais citados;

4)    Não obstante o encaminhamento do relatório final da CPI ao Ministério Público do Estado do Pará, ainda não existe Procedimento Administrativo Investigatório ou Ação Civil Pública por improbidade administrativa contra a Prefeitura Municipal e os demais envolvidos nas irregularidades constatadas.


Os cidadãos da Bacia do Una em geral, a Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una (FMPBU), o Comitê Popular Urbano (CPU), o Programa de Apoio à Reforma Urbana da Universidade Federal do Pará (PARU/UFPA) e o Laboratório de Pesquisa e Práticas Sociais na Amazônia da Universidade Federal do Pará (LABPSAM/UFPA) se colocam à disposição para o diálogo com a Câmara Municipal de Belém durante o exercício deste novo mandato, de forma que seja dado o devido encaminhamento aos resultados obtidos pela referida Comissão Parlamentar de Inquérito, principalmente no que diz respeito à responsabilização pelas irregularidades e omissões que têm causado violações a direitos básicos na Bacia do Una, bem como à reparação aos danos sofridos por significativa parcela da população de Belém.



Frente dos Moradores Prejudicados da Bacia do Una – FMPBU


Comitê Popular Urbano – CPU


Programa de Apoio à Reforma Urbana – PARU/UFPA


Laboratório de Pesquisa e Práticas Sociais da Amazônia – LABSAM/UFPA