quinta-feira, 5 de março de 2015

Audiência Pública (11/03/15): Alagamentos em Belém e os projetos de macrodrenagem


Data: 11/03/2015
Horário: 15 horas
Local: Sede da OAB - Praça Barão do Rio Branco 63, próximo à Praça da Trindade

A cada ano Belém e a Bacia do Una passam por alagamentos e inundações. O primeiro grande alagamento ganha a primeira página dos principais jornais da capital paraense. O segundo, talvez. O terceiro já recebe menor atenção, até o ponto de surgirem pautas "mais importantes" e o público esquecer os sofrimento da população das baixadas e proximidades de canais. Afinal de contas, todos os anos é a mesma coisa. Os jornais impressos publicam as mesmas fotos de ruas alagadas. Os telejornais promovem o triste espetáculo de pessoas lamentando pela casa arruinada, pelos eletrodomésticos e móveis perdidos. O inverno termina e com ele as grandes chuvas. Aos habitantes da Bacia do Una, resta esperar pelo ano que vem.

As inundações na Bacia do Una são vistas pelo belemense médio como algo sazonal, localizado e irremediável. A imprensa local culpabiliza a população pelo arremesso de lixo nos canais e pela obstrução da drenagem. A Secretaria de Saneamento emite notas duvidosas afirmando que está realizando a manutenção dos canais. Mas com qual equipamento? Seguindo as instruções de que manual?

Acostumou-se a enxergar os alagamentos em como parte da experiência recorrente de viver em Belém. As inundações não são catastróficas o suficiente para chamar atenção das manchetes nacionais. Depois de tanto tempo, o problema já não chama atenção da opinião pública e nem engaja compromissos mais sérios de políticos locais. Para muitos belemenses, não há muito o que questionar: "Sempre foi assim". Os alagamentos e inundações se converteram em tragédias silenciosas e cotidianas que se abatem sobre os pobres em Belém. E o problema é perigosamente naturalizado quando são evocadas as características geográficas da cidade e a ocupação espontânea das baixadas para justificar a ocorrência de inundações.

Mas as causas dos alagamentos em Belém não são meramente naturais. Entre 1993 e 2004 um ambicioso projeto de saneamento ocorreu em Belém. O Projeto de Macrodrenagem da Bacia do Una custou 312 milhões de dólares e tinha o objetivo - entre outros - de resolver o problema dos alagamentos em Belém. O referido Projeto foi responsável pela transformação dos antigos cursos d'água da cidade - alguns deles já haviam sido dragados e retificados - em uma extensa rede técnica de drenagem e escoamento de águas. 

A falta de manutenção (desvio de equipamentos) nessa rede e o não prosseguimento de obras complementares (não cumprimento de cláusulas do contrato de empréstimo) resultaram em curto prazo na poluição dos canais e na deterioração progressiva do conjunto de obras realizadas, comprometendo todo o investimento realizado. Os habitantes da Bacia do Una se tornaram novamente vulneráveis a inundações e riscos ambientais.

Portanto, os alagamentos na Bacia do Una não são casos isolados ou infortúnios em virtude da ocupação de áreas inadequadas. As causas dos alagamentos são resultados de decisões políticas que causaram o sucateamento de um conjunto de obras de mais de 300 milhões de dólares para benefício da máfia do saneamento e do mercado imobiliário em Belém. Os alagamentos em Belém ocorrem com a conivência de uma cadeia de cúmplices que vai desde o CONGEB/Una - comitê popular responsável pela sustentabilidade do Projeto - passando pela prefeitura, o governo do estado, o poder judiciário e promotores públicos, chegando ao Banco Interamericano de Desenvolvimento.

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